como funciona um aeroporto
Pousos, decolagens, conexões, bagagens, cargas, lojas... Conheça melhor como é o planejamento e a operação de um aeroporto

 ano 5  -  n.9  -   jan./jun. 2007 

por Larissa Perdigão

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Torre de controle das operações do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília

Vôos atrasados, saguões lotados, impaciência, protestos, insatisfação geral. Foi o que vimos há poucos meses, durante a chamada "crise dos aeroportos" no Brasil, em especial nas regiões Sul e Sudeste. Mas, você sabe como é a operação de um aeroporto? Veremos agora alguns dos aspectos que devem ser levados em conta na administração eficiente de um terminal aeroportuário.

O aeroporto forma uma parte essencial do sistema de transporte por via aérea, já que é o local no qual existe a chamada "transferência modal", ou seja, é no aeroporto onde o modo de transporte muda de aéreo para terrestre ou marítimo e vice versa. Além disso, o aeroporto funciona como um ponto de interação entre os três principais componentes do sistema de transportes aéreos: o aeroporto (incluindo aí o sistema de controle aéreo), as linhas aéreas e o usuário.

O projeto e a operação de um aeroporto deve levar em consideração a interação destes três protagonistas. O equilíbrio entre eles faz com que o sistema opere de forma eficiente. O desequilíbrio pode se dar por várias razões, levando a condições indesejadas, como: operações deficitárias do aeroporto; operações deficitárias das linhas aéreas que operam no aeroporto; condições de trabalho insatisfatórias aos funcionários das linhas aéreas ou do próprio aeroporto; acomodação inadequada dos passageiros; número de vôos insuficiente; operações sem condições de segurança; altos custos operacionais; apoio inadequado às operações das linhas aéreas; tempo de espera elevado para passageiros e linhas aéreas; dificuldade de acesso ao aeroporto; operações muito abaixo da capacidade do aeroporto.

A complexidade na operação de um aeroporto pode ser estimada pelo número de organizações associadas. Algumas dessas organizações são: autoridades locais, governos municipais, estaduais e federais, concessionárias de serviços públicos, fornecedores de produtos e serviços, polícia, bombeiros, serviços médicos, controle de tráfego aéreo, meteorologia, engenharia, Receita Federal e demais órgãos de fiscalização, entre muitos outros. O número de pessoas empregadas nas operações aéreas, portanto, é muito grande. Os grandes aeroportos do mundo, como Chicago (O’Hare), Los Angeles, Londres (Heathrow) e Atlanta têm, cada um, níveis de emprego que superam 50 mil pessoas.

Embora administradores de aeroportos gostem de falar do número de passageiros transportados anualmente em seus aeroportos, o que determina a real capacidade de um aeroporto é o número de passageiros que ele consegue gerenciar simultaneamente num dado instante. Daí a importância de se estudar como a demanda por vôos varia ao longo dos meses, dos dias do mês ou dos dias da semana, e até mesmo ao longo de um dia.

O administrador também deve estar atento ao controle de ruídos do aeroporto. A duração, a intensidade e a quantidade de ruídos devem ser alvo de estudos do administrador. Existem fórmulas matemáticas que calculam o nível total de exposição a ruídos (TNEL, na sigla em inglês). O TNEL é relacionado, por gráficos e tabelas, à perturbação que causa ao indivíduo. Este nível deve ser observado não somente nos funcionários do aeroporto, mas também nas vizinhanças.

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Saguão do check-in do Aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília

Os tipos de aeronaves que utilizam o aeroporto também devem ser controlados. É inadequado, por exemplo, priorizar a utilização das pistas de um aeroporto com grande capacidade de atender passageiros por aeronaves de pequeno porte. Ao mesmo tempo, grandes aeronaves podem não ser capazes de operar com segurança em aeroportos menores, de pistas pequenas. Também se deve levar em conta a finalidade das aeronaves, ou seja, se servem para transporte de cargas ou de passageiros, assim como o risco de queda de uma aeronave menos segura em um aeroporto localizado no centro da cidade.

A eficiência de um aeroporto se relaciona à sua prontidão para disponibilizar serviços operacionais, como pistas, auxílio por instrumentos, iluminação, serviços de emergência, socorro mecânico e elétrico, manuseio de bagagens, direcionamento de passageiros em embarque, desembarque e conexão, entre outros. Obviamente, todos estes aspectos devem ser estudados e aperfeiçoados, sempre que possível.

Uma das partes mais sensíveis da operação aeroportuária e que gera maiores prejuízos à imagem do aeroporto é a operação do terminal de passageiros. Este tem a função de abrigar os passageiros em trânsito, assim como efetuar procedimentos envolvendo passageiros e bagagens. Uma característica diferenciadora dos aeroportos é a necessidade de dar apoio significativo ao passageiro em desembarque. Este passageiro precisa, freqüentemente, buscar suas malas, conferir documentação, conversar com autoridades de imigração e receita, algo que acontece com muito menor freqüência em outros tipos de terminais (rodoviário, ferroviário e marítimo, por exemplo). De maneira similar, o terminal de cargas também merece atenção.

A segurança do aeroporto é um dos aspectos cuja importância mais cresceu nos últimos anos. Desde o fim dos anos 1960, o administrador aeroportuário não tem apenas de lidar com roubos, furtos, estelionatos, vandalismos e tráficos, mas também com o risco de crimes terroristas em geral, e de seqüestro de aeronaves em particular. O risco parece maior desde 11 de setembro de 2001, quando quatro aeronaves foram quase simultaneamente seqüestradas e três delas atingiram edifícios como o World Trade Center de Nova York e o Pentágono, centro das operações militares dos EUA, em Washington.

O controle de tráfego aéreo também é uma parte sensível das operações aéreas em geral. Inclui não somente o controle de vôo diretamente, mas também a meteorologia, as comunicações aeronáuticas e os serviços de informação aeronáutica. No Brasil, pudemos observar neste ano de 2006 a importância da boa operação de controle de tráfego aéreo sobre as demais áreas de operação aeroviária.

Aeroportos podem ser extremamente eficientes, mas ainda assim ficar ociosos. Isto porque estes aeroportos podem ser de difícil acesso. No Brasil, não faltam exemplos. O aeroporto de Confins, em Minas Gerais, serve à Grande Belo Horizonte, mas fica a mais de 40 quilômetros do centro da capital mineira, permanecendo subutilizado. Por muito tempo, na Grande São Paulo, o aeroporto de Cumbica operou muito abaixo da capacidade, em detrimento do aeroporto de Congonhas, de acesso mais fácil e rápido.

Por fim, para você que tem medo de avião: no Reino Unido, um estudo mostrou que a probabilidade de acidente aéreo é de 1 em 67.000 vôos. Acidentes com mortes são ainda mais raros: um vôo em cada 345.000. É muito pouco. Obviamente, o administrador de aeroportos também deve estar atento à possibilidade de ter de dar suporte a uma aeronave com problemas, mas esta atividade, de todas as descritas aqui, é a que menos ocorre. Ainda bem!


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do Secular Educacional.

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Larissa Perdigão
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Jornalista responsável
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