vida: fenômeno científico?
Algum dia os cientistas explicarão a origem da vida?

 ano 6  -  n.12  -   jul./dez. 2008 

por Larissa Perdigão

NEMS
Fragmento do Murchison, asteróide recheado de aminoácidos

Como surgiu a vida na Terra, ninguém sabe. Alguns acham que foi obra de Deus. Mas como não temos certeza de que Ele existe mesmo, a pergunta continua sem resposta. No entanto, muitos cientistas vêm fazendo pesquisas, tanto na Terra quanto no espaço, para poder responder a essa pergunta. E as conclusões a que eles já chegaram parecem bastante interessantes.

O conhecimento do espaço é importante para entender as condições particulares que favorecem o desenvolvimento da vida na Terra. Entretanto, o ser humano ainda não consegue alcançar outros planetas com facilidade. Todos os corpos celestes (planetas, cometas, asteróides) aos quais conseguiu chegar perto, seja com sondas ou foguetes espaciais, pertenciam ao nosso sistema solar. Mesmo assim, conhece a composição química de estrelas e outros corpos celestes inalcançáveis.

O método pelo qual os cientistas estudam essa composição é a espectroscopia. Ou seja, o estudo dos diversos componentes da luz e de outras radiações. O conjunto dos componentes da luz se chama espectro. O espectro estudado pelos cientistas é aquele emitido, absorvido ou refletido pelos corpos celestes. A espectroscopia permite analisar a composição química dos materiais porque cada substância possui um espectro diferente, como uma impressão digital.

Além das estrelas, podemos observar nuvens espaciais no céu. Estas nuvens são compostas de gás e poeira, e elas podem formar, com este material, novas estrelas e planetas. Existem dois tipos de nuvens espaciais: as difusas e as densas. As difusas têm baixa densidade atômica, e pouquíssimas moléculas, já que são raros os encontros entre dois átomos.

Já as nuvens densas ou moleculares, como seu nome diz, têm uma alta densidade molecular. A concentração de matéria é tanta que a atmosfera terrestre é apenas um bilhão de vezes mais densa. Parece muito, mas não é, visto que no espaço impera o vazio. Algumas nuvens chegam a ter 10 anos-luz de comprimento. É a distância que nos separa das estrelas mais próximas. Interessante é observar que estas nuvens são compostas de moléculas complexas, como CH3CH2OH (etanol), CH3NH2 (metilamina) e HCOOH (ácido fórmico). Todas estas moléculas orgânicas são encontradas em seres vivos.

Estas e outras moléculas orgânicas podem gerar moléculas ainda mais complexas, como aminoácidos (componentes das proteínas), purinas e pirimidinas (encontradas no DNA). Estas biomoléculas ainda não foram detectadas nas nuvens moleculares, mas já foram encontradas em determinados tipos de meteoritos. Os pesquisadores ainda buscam saber se estas biomoléculas tiveram alguma importância na origem da vida na Terra.

O pensamento da maioria dos cientistas é a de que estas moléculas eram facilmente produzidas nas condições existentes na Terra primitiva. Entretanto, esta afirmação não pode ser considerada definitiva, pois não se conhece com exatidão quais eram as condições do nosso planeta há 4 bilhões de anos. Por exemplo, não se sabe ao certo como eram as interações entre a atmosfera e os oceanos, quais eram as oscilações de temperatura ou qual era o caráter químico da atmosfera terrestre, se levemente oxidante ou fortemente redutor.

Podemos encontrar informações sobre o princípio do sistema solar em cometas, asteróides ou na Lua. Isto porque estes corpos foram os que menos alteraram sua composição desde então. Os asteróides são os corpos mais estudados, porque alguns deles caíram na Terra. O Murchison, asteróide que caiu na região de Melbourne, Austrália, em 1969, é um deles. Nele foram encontrados 16 aminoácidos, dos quais 5 fazem parte das proteínas dos seres vivos de hoje.

Mesmo encontrando-se tantas biomoléculas, nenhuma forma de vida foi encontrada fora da Terra até agora. No sistema solar, nosso planeta possui características fundamentais para abrigar vida, que os outros parecem não ter. Entre elas, estão seu tamanho, seu satélite natural e sua distância do Sol.

O tamanho da Terra é adequado para reter sua atmosfera pela gravidade, mas é incapaz de segurar o levíssimo gás hidrogênio, forte redutor químico que impediria, por exemplo, o aproveitamento da energia dos alimentos. A Lua exerce um efeito de estabilização do eixo de rotação da Terra, o que impede bruscas oscilações climáticas nos diversos pontos do globo. Quanto à distância do Sol, não estamos tão perto para a água evaporar, nem tão longe para congelar.

A atmosfera é outro fator que existe na Terra mas não nos asteróides pesquisados. Acredita-se que a atmosfera primitiva, formada pelos freqüentes choques de corpos celestes com a Terra em seu primeiro bilhão de anos, era composta por gases em quantidades enormes, como vapor d'água (que hoje forma os oceanos) e dióxido de carbono (que se transformou nos carbonatos das rochas sedimentares). Nitrogênio também teria sido liberado, embora em menor quantidade. O nitrogênio conservou-se na atmosfera por ser muito pouco reativo. O oxigênio que existe hoje foi gerado pelos organismos que fazem fotossíntese.

Com base nesse provável ambiente, um estudante de química, o americano Stanley Miller, montou na década de 1950 um pequeno aparelho que simulava a condição do planeta em seus primórdios, incluindo os oceanos, a atmosfera, as chuvas, a temperatura e as descargas elétricas de raios. Ao final de sete dias, Miller encontrou no aparelho nove aminoácidos. Alterações foram feitas na atmosfera e na temperatura, mas sempre havia aminoácidos como produto.

Como os aminoácidos de nosso planeta ganharam vida, não se sabe. Na verdade, ainda existe um caminho muito longo a ser percorrido. Afinal, aminoácidos são apenas pequenas moléculas. No entanto, saber que o ambiente primitivo da Terra era rico em biomoléculas indica que havia material para a criação do primeiro ser vivo, tenha sido isso feito por Deus ou pela própria natureza. Cabe aos cientistas tentar saber como as biomoléculas, constituintes básicos da vida, se associaram para produzir a primeira célula viva.


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do Secular Educacional.

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