deriva continental: a genialidade de wegener
Um mergulho na história do cientista alemão e em suas ideias geniais

 ano 7  -  n.14  -   jul./dez. 2009 

por Larissa Perdigão

Divulgação
Alfred Lothar Wegener, entre uma expedição e outra

"A Origem dos Continentes e Oceanos". Esse é o título do livro que provocou as maiores e mais furiosas discussões da década de 1920. A principal ideia contida ali é a de que, em algum tempo remoto, todos os continentes da Terra estiveram unidos, formando uma grande massa emersa, denominada pelo autor Pangea (expressão latina que significa "toda a terra"). Os continentes atuais teriam derivado da Pangea. O grande e único oceano que envolveria toda aquela terra foi chamado Pantalassa ("todo o mar").

O autor dessa teoria, chamada de "deriva continental", o alemão Alfred Lothar Wegener, nasceu em Berlim em 1º de novembro de 1880. Filho de um diretor de orfanato, doutorou-se em Astronomia pela Universidade de Berlim em 1905. Durante esse tempo, interessou-se por estudos de Meteorologia e Geologia, cultivando sua resistência física com o objetivo de explorar o norte da Groenlândia. Wegener realizou quatro expedições científicas àquele território, tendo sido reconhecido como um especialista na área. Em 1908, passou a ministrar aulas no Instituto de Física da Universidade de Marburgo, na Alemanha.

Quatro anos depois, Wegener começou a pesquisar a possibilidade de África e América do Sul terem estado unidos no passado, após ler um artigo de Paleontologia que apontava semelhanças em fósseis encontrados no Brasil e na África Ocidental. Ele também observou a semelhança das linhas costeiras dos dois continentes. Em fins do século 16, o cartógrafo holandês Abraham Ortelius já havia sugerido que o Oceano Atlântico teria sido aberto, e os continentes separados, devido a fortes terremotos e enchentes.

Wegener continuou suas pesquisas sobre o assunto, até que, em 1915, enquanto servia o exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial, publicou pela primeira vez o livro que continha não somente a teoria da deriva continental, mas uma vasta coletânea de evidências geológicas, paleontológicas e paleoclimáticas. Por exemplo, o fato de as formações rochosas de ambos os lados do Atlântico serem muito semelhantes em diversos aspectos, além de conterem fósseis de seres que não poderiam ter atravessado o oceano ou surgido à mesma época em locais tão distantes.

A publicação, em 1919, de uma segunda edição mais bem organizada provocou as primeiras discussões na Europa, mas foi a tradução para o inglês, publicada três anos depois, que levou a um rechaço maciço à teoria. Isso porque, na Europa, já era aceita a hipótese de que alguma espécie de ponte de terra emersa ligara, em tempos passados, América e África, do mesmo modo que o istmo do Panamá liga hoje as Américas do Sul e do Norte. Já nos Estados Unidos, a maioria dos cientistas acreditava que os continentes e oceanos mantêm suas configurações ao longo do tempo. Nesse contexto, que hoje se mostra completamente equivocado, as nuances do relevo se deveriam ao resfriamento e consequente contração do interior da Terra, tal qual uma fruta murcha e enrugada.

Os opositores de Wegener, em geral, acusavam-no de ser seletivo em relação à busca de provas, mas os geofísicos foram os únicos a conseguir refutar algumas bases de sustentação da teoria. Em seu livro, ele sugerira que o fundo dos oceanos seria composto de um material fluido, sobre o qual a matéria rígida que forma os continentes flutuaria. Medições de ondas sísmicas mostraram que o assoalho oceânico é rígido, e Wegener passou a ser acusado de charlatanismo.

Mais que isso, Wegener não conseguiu propor um mecanismo para sua teoria. Que forças seriam capazes de transportar tão grandes blocos, como os continentes, a tão largas distâncias? Ele elencou duas possibilidades: afastamento polar, devido ao movimento de rotação da Terra, e empuxo gravitacional, relacionado com forças gravitacionais do Sol e da Lua. Harold Jeffreys, astrônomo e geofísico inglês, fez alguns cálculos e verificou que as forças necessárias para o movimento dos continentes era milhões de vezes maior que aquelas citadas por Wegener, além de que, se estas forças fossem tão grandes quanto o necessário, os continentes se fragmentariam completamente.

Depois de ter sido abandonada na década de 1940, até mesmo por antigos defensores, a teoria de Wegener foi retomada devido a novas descobertas na área da Geofísica. Entre elas, percebeu-se que a crosta oceânica é delgada, jovem, possui cadeias de montanhas submersas (chamadas dorsais), e que há um padrão de orientação magnética do material que compõe a crosta, que varia de acordo com a distância das dorsais.

Harry Hess, geofísico americano, sugeriu que o fundo do mar estaria sendo criado a partir das dorsais, que possuem inúmeros vulcões ativos. Ao emergir, a lava quente se acumularia, formando as montanhas e as diversas ilhas, se espraiaria para fora da dorsal, empurrando o antigo e formando um novo assoalho oceânico que, ao se solidificar, se alinharia com o campo magnético terrestre. Como o campo inverte-se ao longo do tempo, ficou registrada nas rochas a orientação do campo no momento da solidificação. As rochas mais próximas à dorsal, por exemplo, alinham-se de acordo com o campo magnético atual. Finalmente, havendo formação de nova crosta, deve haver consumo da antiga. Hess propôs que isso deve ocorrer nas fossas abissais, áreas muito profundas encontradas sobretudo no Oceano Pacífico.

Os continentes não são, como teria sugerido Wegener, blocos à deriva sobre uma massa fluida. A crosta terrestre seria composta de 12 ou 13 grandes placas rígidas, além de várias outras menores, chamadas placas tectônicas. Elas encontram-se em contínuo movimento, e, quando se chocam, podem afundar no manto ou elevar-se, formando uma cordilheira. As extremidades das placas são as regiões onde mais se registram terremotos. Esta teoria é chamada tectônica de placas.

Wegener, apesar de não conseguir provar a hipótese da deriva continental, prosseguiu sua carreira, conquistando a cadeira de Meteorologia e Geofísica da Universidade de Graz, na Áustria. Em novembro de 1930, morreu em um acidente durante uma expedição à Groenlândia. Apesar de a teoria da tectônica de placas só explicar satisfatoriamente o movimento da crosta oceânica, e não da continental, hoje a ideia central da teoria de Wegener é aceita: os continentes estiveram, sim, unidos em um tempo remoto. E acabou-se a discussão!


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do Secular Educacional.

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