salários: o que diz a economia
Educação, talento, sorte... que fatores afetam os salários?

 ano 11  -  n.21  -   jan./jun. 2013 

por Larissa Perdigão

Larissa Perdigão
 

A maior parte dos pais quer que o seu filho estude e se forme. Até há cerca de duas ou três décadas, as mesmas famílias que almejavam que seus filhos concluíssem ao menos a educação básica, hoje exigem o superior completo. Mas, como se pode perceber por inúmeros exemplos, não há regra única na relação entre salários e bem-estar – algo com que os pais talvez devessem se preocupar mais –, ou entre salários e nível educacional. Este é apenas um de vários aspectos que trataremos neste texto.

A exceção mais significativa na relação que se espera entre salários e nível educacional se dá pelo talento. Se falarmos em talento em áreas bem específicas, como esportes e entretenimento, a relação dos salários com a instrução é praticamente inexistente. Um extraordinário jogador de futebol, por exemplo, ganha um salário astronômico pela singularidade do seu talento, combinada à enorme quantia de dinheiro envolvida em um negócio como o futebol. Substituir, digamos, Lionel Messi, um dos maiores jogadores de futebol da atualidade, por outros dois jogadores de metade do salário e metade do talento de Messi não seria uma saída possível, já que existe uma limitação de 11 jogadores em campo. Se o jogador fosse um goleiro, a impossibilidade seria ainda mais óbvia: não há como trocar um goleiro bom por dois medianos atuando juntos!

Em algumas funções, o talento caminha ao lado do esforço. Certas habilidades podem ser adquiridas com treinamento, o que compensa a falta de talento. Um profissional, por exemplo, pode não ser muito habilidoso nas relações sociais, mas consegue melhorar seu desempenho praticando diálogos fictícios, fazendo cursos específicos ou terapias de grupo, recebendo aconselhamentos etc. Da mesma forma, o talento pode ficar adormecido se não houver treinamento ou esforço por parte do portador, ou, ainda, se este talento não for útil à atividade exercida. A genialidade de Einstein não serviria para quase nada se ele fosse um operário de chão de fábrica, ou se ele não se esforçasse em seus estudos.

O esporte é fonte de outra distorção nos salários em relação à educação. Comparemos os salários do melhor jogador de futebol do mundo com o do melhor jogador de xadrez do mundo. Apesar de podermos dizer que a intelectualidade envolvida na segunda função e a eventual aplicabilidade de suas habilidades estratégicas na vida real ser muito maior, quem ganha mais é o sujeito que exerce a primeira função. Isto ocorre porque muito mais pessoas estão dispostas a gastar dinheiro para assistir a uma bela partida de futebol do que a uma partida de xadrez. Neste sentido, certos talentos e esforços são mais bem recompensados do que outros.

Existem outras formas de distorção de salários. Os economistas chamam de diferencial compensatório a diferença de salários como estas que apresentamos e outras formas decorrentes de características não monetárias. Um exemplo está nos trabalhadores em atividades insalubres – que geram cumulativos danos à saúde, como trabalhos em hospitais ou indústrias químicas – ou em atividades perigosas – cujo risco de acidentes é maior, como técnico de distribuição de energia elétrica ou limpador de vidros de edifícios. A legislação trabalhista de diversos países, inclusive a brasileira, garante o pagamento adicional a estes profissionais pelo risco que assumem. Também está previsto na legislação trabalhista nacional o pagamento adicional pelo trabalho noturno. O salário maior compensa parte do incômodo ou falta de desejo de alguns pelo trabalho noturno, que exige do trabalhador o descanso diurno.

Empresas também costumam pagar mais para profissionais que se instalam em cidades pouco atrativas. é comum que trabalhadores com qualificações e competências semelhantes tenham salários diferentes, sendo o maior salário atribuído ao trabalhador isolado, ou deslocado a uma cidade interiorana. Trabalhos em construção e operação de oleodutos, linhas de transmissão elétrica, rodovias e ferrovias sertanejas, usinas hidrelétricas, bem como na operação de plataformas de extração de petróleo, costumam pagar mais do que trabalhos equivalentes nas cidades. Prefeituras de cidades pequenas oferecem salários altíssimos – às vezes, maior que o salário do prefeito local – na busca de um médico que ali atue e se fixe, e muitas vezes não consegue, porque o profissional prefere permanecer em um centro urbano maior, em que possa usufruir de facilidades que somente cidades maiores oferecem.

Há economistas que creem que o salário recebido por professores é menor por um motivo semelhante a esse: o trabalho dos professores seria muito mais agradável e menos rigoroso que o de engenheiros e médicos, daí a remuneração menor. Ou seja, seria como se parte da remuneração do professor viesse na forma de satisfação pessoal ou intelectual. A comparação é pertinente porque engenheiros, médicos e professores costumam ter níveis educacionais semelhantes: são graduados em suas áreas e, na maioria dos casos, são pós-graduados ou realizam cursos de formação continuamente.

Em Economia, a acumulação de investimentos em pessoas é chamada de capital humano. Este capital humano pode ser de diversos tipos, sendo o principal a instrução. A expressão capital é usada por representar uma forma de investimento que se espera ser útil no futuro. Como se espera, na média, pessoas com mais capital humano recebem salários maiores. No caso de certos países, ou de certas profissões, onde o capital humano é mais raro – tem baixa oferta – mas igualmente ou ainda mais necessário – tem muita procura –, o capital humano diferencia ainda mais os salários daqueles que o têm em relação àqueles que não o têm.

Recentemente, o Congresso Nacional brasileiro aprovou a extensão dos benefícios trabalhistas aos empregados domésticos. Mas, antes mesmo de isto ter acontecido, o Brasil já experimentava uma maior e crescente escassez de mão de obra para trabalhos domésticos. Em parte, isto se deve à crescente aquisição de capital humano pela população em geral. Com isto, menos pessoas estão dispostas a atuar no trabalho doméstico, pela baixa valorização social e remuneratória, e dada a possibilidade de atuação em atividades que propiciem maior reconhecimento social, salários mais elevados e melhores perspectivas. Outra faceta do fenômeno mostra que o Brasil está, aos poucos, deixando de ter uma estrutura social de país subdesenvolvido, e passando a ter uma estrutura social que oferece condições dignas de trabalho a todos.

Há muitos outros fatores de diferenciação de salários, alguns objetivos, outros subjetivos. Mesmo alguns dos fatores subjetivos têm explicações satisfatórias por parte dos economistas. Outros ainda merecem estudos mais apurados. Por exemplo, o que dizer da beleza? Pessoas belas ganham mais? Têm mais chances de conseguir emprego? Têm menos chances de alcançar diretorias e cargos mais elevados por serem vistas apenas como “um rostinho bonito”? Tudo isto pode ser verdade. E é este o trabalho de alguns economistas: descobrir as variáveis a influir nos salários.


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do Secular Educacional.

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