rio grande do norte: história e geografia
O estado do extremo nordeste está mais ligado ao Brasil do que se poderia esperar

 ano 13  -  n.26  -   jul./dez. 2015 

por Larissa Perdigão

Larissa Perdigão
Forte dos Reis Magos: construção é precursora da ocupação portuguesa do RN

Guerras, ocupações, pobreza, abandono, seca, petróleo, cultura. O Rio Grande do Norte tem uma história expressiva, em que todos esses elementos e muitos mais estão presentes. Muito da história do Brasil se explica pela história do estado potiguar. Também tem uma geografia mais rica do que se imagina. Então, sê bem-vindo, sê bem-vinda!

O Rio Grande do Norte representava uma das maiores capitanias do início do período colonial. João de Barros e Aires da Cunha foram os responsáveis por buscar sua colonização, em 1535, o que não resultou em sucesso diante do contínuo ataque francês e da resistência indígena. Mesmo assim, não houve desistência. O que mudou foi a estratégia. Em lugar de buscar a guerra, os portugueses passaram a se aliar aos indígenas: primeiro aos tabajares, depois aos potiguares. A propósito, a palavra potiguar, um dos gentílicos característicos do Rio Grande do Norte até hoje, significaria, segundo alguns, respaldados pelo dicionário Houaiss, “comedor de camarão” em tupi. Poti, ou piti, significa camarão, e war, comer.

Somente no fim daquele século 16 os portugueses conseguiram se fixar na região, com a construção do Forte dos Reis Magos e o estabelecimento da vila de Natal. Mesmo assim, os holandeses dominaram a região por cerca de 20 anos durante o século 17. Um dos líderes da expulsão dos holandeses foi Filipe Camarão. Índio potiguar, ao adotar um nome português, escolheu homenagear o monarca da Ibéria unificada e, ao mesmo tempo, prestar homenagem à sua nação indígena. Aderiu de forma inequívoca à cultura ocidental, falando muito bem o português e, segundo historiadores, também escrevia, o que era raro à época. Seu nome está inscrito no livro de heróis brasileiros, no Panteão da Pátria, em Brasília.

O clima e o solo locais não eram tão favoráveis ao cultivo da cana-de-açúcar, de forma que a região praticamente não teve engenhos. No entanto, com o declínio da renda derivada do açúcar e a consequente migração para o sertão, o Rio Grande do Norte passou a receber pessoas vindas das regiões canavieiras, tendo como principal atividade econômica a criação de gado, seguida da exploração de sal. A expansão da ocupação por não indígenas, devida ao declínio da atividade açucareira, para terras de diversas tribos tapuias e a tentativa de escravizar esses indígenas resultou na reação da nação cariri, que, com outras tribos, deram seguimento à Guerra dos Bárbaros, cujo ápice se deu no fim do século 17.

Durante todo o período do Brasil Colônia e início do Império, o Rio Grande do Norte se manteve como região pobre e de escasso povoamento, como, em realidade, todo o Nordeste, à exceção, pontual no espaço e no tempo, do Maranhão e da Bahia. Isto não significa, no entanto, que a época tenha sido tranquila. Ao contrário: nas décadas de 1810 e 1820, pelo menos dois eventos marcaram o Rio Grande do Norte: a Revolução de 1817 e a Confederação do Equador.

é preciso dizer que o Rio Grande do Norte não era uma província autônoma até a década de 1820, estando, assim, subordinada à Capitania de Pernambuco, onde eclodiram os dois eventos históricos mencionados. Ambos tinham a intenção de tornar independente essa parte do país. O primeiro evento opôs pernambucanos e portugueses, em prol de uma maior valorização e reconhecimento da região; o segundo opôs nordestinos e monarquistas, como nova onda da primeira revolução, pois a independência do Brasil e a criação das várias províncias na região em 1821 não levaram à desejada autonomia regional, tampouco ao regime republicano, almejado pelos revolucionários.

Em relação à economia norte-rio-grandense, foi durante a época imperial que a província começou a explorar mais intensamente o comércio de produtos como o sal e a carne de sol (de gado e de peixe), além de artefatos de couro. Ao fim do século 19, instalaram-se as primeiras indústrias têxteis, possíveis graças ao fornecimento de algodão por produtores locais.

A história da época também passou pelo Rio Grande do Norte. Os movimentos republicanos e abolicionistas durante o Império, o sistema oligárquico na República Velha, a passagem da Coluna Prestes e do bando de Lampião... Antes de o movimento da Intentona Comunista ser reprimido, ele chegou a dominar a capital Natal, em 1935. Já na Segunda Guerra Mundial, o estado serviu de base para as forças armadas dos Estados Unidos. Por fim, Café Filho, figura proeminente da política potiguar, assumiu a presidência do Brasil após o suicídio de Getúlio Vargas.

Em relação à economia do Rio Grande do Norte na era republicana, apesar do aumento de investimentos proporcionado pela criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), na década de 1960, o crescimento dos setores de exploração mineral, agrícola e industrial foi lento e incapaz de se traduzir em melhorias imediatas para a maior parte da população. O turismo e o petróleo começaram a ganhar força na economia na década de 1970.

A área do estado do Rio Grande do Norte é de 52.797 km², algo como nove vezes a área do Distrito Federal, ou um retângulo de 350 km por 150 km. Limita-se a norte e a leste com o Oceano Atlântico, a sul com a Paraíba e a oeste com o Ceará. Além do território continental, o Atol das Rocas, território brasileiro a mais de 260 km de Natal, considerado Patrimônio Mundial Natural pela Unesco, único atol coralino do Atlântico Sul, também é potiguar.

A população do estado do extremo nordeste do Brasil, de acordo com estimativa do IBGE para 2015, é de mais de 3,4 milhões de habitantes. Trata-se do dobro da população estimada para 1975, ou seja, a população do estado dobrou no curto espaço de 40 anos. A região metropolitana da capital Natal concentra algo como 1,3 milhão de pessoas. Além de Natal, Mossoró é outra cidade de importância, com cerca de 300 mil habitantes.

Sua cobertura vegetal original é de mangue na faixa litorânea, com uma pequena faixa de Mata Atlântica no centro-leste e caatinga a oeste. O estado não é banhado por rios naturalmente permanentes. O principal rio do estado, o Piranhas-Açu, foi tornado perene graças à construção de açudes e outras barragens. Seu relevo é, predominantemente, formado por planícies, havendo, ainda, uma formação mais elevada e relevante, chamada Planalto da Borborema, que começa em Alagoas e termina no Rio Grande do Norte.

A economia potiguar tem como pilares o comércio, a indústria têxtil, a agroindústria e o turismo. É o maior produtor de petróleo extraído em terra no Brasil. Além disso, produz 90% do sal marinho nacional, graças às condições climáticas favoráveis: poucas chuvas, temperatura sempre elevada e ventos secos.

A história e a geografia do Rio Grande do Norte estão intrinsecamente ligadas à história do Brasil. É isso que faz desse estado, aparentemente tão isolado, em um extremo do mapa, e de sua gente potiguar, partes indissociáveis do nosso país. O Rio Grande do Norte é nosso, sim, senhor!


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do grupo de pesquisa “Investigações Transdisciplinares em Educação para a Ciência, Saúde e Ambiente”.

Comissão editorial
Larissa Perdigão
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Glauco Lini Perpétuo

Jornalista responsável
Larissa Perdigão (MTb/SP 37654)

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Brasília, DF, Brasil

ISSN 2446-4759