música: muito mais do que som
A música tem impacto surpreendente no organismo

 ano 15  -  n.29  -   jan./jun. 2017 

por Amanda Cindy da Silva e Larissa Perdigão

sxc.hu
Não é preciso ser profissional da música para se beneficiar dela

Já parou para pensar no porquê de algumas músicas nos deixarem mais alegres e animados, e outras músicas nos deixarem calmos e serenos? A música não está ligada somente ao sentido da audição, mas também ao efeito que cada som provoca no seu organismo. Se fosse diferente, não teríamos qualquer reação de amor ou ódio por qualquer som. Poderia ser bom no caso do vizinho barulhento, mas ficaríamos sem o prazer gerado ao escutar aquela música especial. Essas influências musicais vêm desde o ventre materno. Os sons externos estimulam o bebê, sendo a voz da sua mãe o principal desses sons.

E o que é o som? O som é uma onda. As ondas sonoras são ondas mecânicas, ou seja, precisam de um material para se propagar. Esse material, em geral, é o ar, mas também pode ser a água (como nos sonares dos navios) ou algum objeto (como os barbantes dos telefones de lata). À medida que essa onda se propaga, as partículas vibram. No caso do ar, ocorrem pequenas diferenças de pressão. Essas diferenças de pressão e vibrações são detectadas e interpretadas por nosso organismo: é o som.

Para que o som seja devidamente captado pelo seu ouvido e interpretado por seu cérebro, ao menos três componentes são necessários: o componente condutivo, o sensorial e o neural. Comecemos pelo componente condutivo. A orelha externa conduz e amplifica o som até a orelha média. Na orelha média, estão os três famosos “ossinhos” do ouvido, martelo, bigorna e estribo. Estes ossos ressoam as vibrações, equilibrando o som, para que este seja transmitido à membrana timpânica, que vibra e se desloca de acordo com a frequência do som.

O componente sensorial é composto pela cóclea, que transforma o impulso sensorial em impulso elétrico. Dentro da cóclea, existem células ciliadas, que atuam para receber os estímulos sensoriais. Cada célula ciliada é responsável por diferentes tipos de frequência. Portanto, quem faz essa divisão é a cóclea, separando os sons complexos de acordo com a frequência.

Os sinais sensoriais geram estímulos elétricos, que são conduzidos ao nervo auditivo, que é parte do componente neural. Ao receber essa informação na forma de impulso elétrico, o nervo auditivo a transmite a estruturas no cérebro: inicialmente, o tronco encefálico; depois, ao tálamo e, finalmente, ao córtex auditivo localizado no lobo temporal, região lateral da cabeça. Percorrido todo este caminho, pronto, você ouviu.

A música tem uma complexidade característica como som. Além da frequência, há o timbre, a altura, a intensidade, todas devidamente trabalhadas para causarem boas sensações ao escutar. Há, assim, uma sensibilidade associada ao processo de escutar música, que tem relação com todo o processo que acabamos de descrever.

Quando você escuta uma música, ocorre a ativação de áreas no seu cérebro, para reter ou, se preferir, para aprender a informação recebida. Nesse caso, um novo código sonoro é criado pela ativação de neurônios. Esses neurônios são livres para receber conhecimento de diferentes órgãos dos sentidos. Assim, quanto mais e mais diversos forem os sons você ouvir, maior será o seu conhecimento sonoro, pois seu cérebro estará recrutando uma área maior para o processamento e para a retenção da nova informação musical aprendida.

Muitos estudos indicam que a música tem relação direta com as emoções. A música promoveria uma interação entre áreas de processamento centrais do sistema nervoso e áreas do sistema límbico, que é a região do cérebro responsável por regular as nossas emoções. Há um grupo de neurônios essencial para essa interação: as amígdalas. Elas são encarregadas de realizar a associação entre estímulos e recompensas. É essa a região mais ativada do cérebro quando se está ouvindo algo de que se gosta. Assim, ao cantar, ouvir ou tocar algum instrumento, nosso cérebro libera certas substâncias que nos dão sensações de alegria e de prazer, como endorfinas e serotoninas.

Estudos de neurociência indicam que as habilidades verbais se associam ao hemisfério direito do cérebro, enquanto as habilidades musicais estão ligadas ao hemisfério esquerdo. Também há estudos indicando que músicos profissionais apresentam maior capacidade de atenção, aprendizado e concentração. Mas ninguém precisa ser profissional da música para se beneficiar disso. Aprender a tocar um instrumento desenvolve habilidades que recrutam os dois hemisférios cerebrais, fazendo com que ocorra uma reorganização de áreas responsáveis por coordenação motora e equilíbrio.

O fato de a música ter tamanho impacto no comportamento cerebral, é possível usá-la para obter benefícios para o organismo. Além dos efeitos positivos derivados da música como forma de arte, destacamos psicologia, educação e recurso terapêutico em saúde. Na psicologia, a música pode ser utilizada como forma de expressão corporal, auxiliando o indivíduo a compreender o funcionamento e o estado do seu corpo no tempo e espaço. Em outras palavras, a música pode ajudar a pessoa a tomar consciência corporal.

Na educação, a música é vista como uma ferramenta educacional. Por meio dela, educadores têm associado o modelo tradicional de ensino a métodos ativos de aprendizagem, que envolvem e estimulam no estudante. A música chama à atenção, à participação e ao exercício da criatividade, tornando facilitada a construção do conhecimento.

Por fim, em relação à saúde, muitos profissionais da área utilizam a música como recurso associado às suas abordagens terapêuticas. Isto porque, como vimos, a música pode desencadear processos positivos no organismo. Assim, a música atua no processo de comunicação e expressão social, melhora as habilidades motoras e pode otimizar outras funções cerebrais, como memória e orientação espacial.

Por tudo isso, cada vez mais, a música vem se tornando uma porta de intervenção para os mais diversos profissionais das relações humanas. Em outras palavras, a música é muito mais que som. Música é arte. Música é educação. Música é saúde. Portanto, na próxima vez em que se sentir bem ao escutar uma canção, lembre-se: sim, a música tem esse poder de nos fazer melhores.


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do grupo de pesquisa “Investigações Transdisciplinares em Educação para a Ciência, Saúde e Ambiente”.

Comissão editorial
Larissa Perdigão
Michelle Zampieri Ipolito
Glauco Lini Perpétuo

Jornalista responsável
Larissa Perdigão (MTb 37654/SP)

Imprenta
Brasília, DF, Brasil

ISSN 2446-4759