prensa: uma revolução à sua época
Jornais, livros, panfletos... Nada disso seria tão comum sem a prensa

 ano 15  -  n.29  -   jan./jun. 2017 

por Larissa Perdigão

sxc.hu
A China foi o berço das peças centrais da prensa

Muitas foram as invenções que mudaram o nosso jeito de aprender. A escrita foi uma delas. Depois dela, pudemos ter acesso direto a pensamentos de pessoas que já haviam morrido, sem os intermediários que, inevitavelmente, alteram a mensagem em uma transmissão oral de saberes. Outra foi o rádio. Com ele, pessoas distantes poderiam ouvir programas educativos em casa, ao vivo. A internet foi além: uma mensagem passou a ser acessível ao mundo inteiro, e por um preço muito baixo, juntando a qualidade da mensagem escrita ― que pode ir a qualquer lugar ― com a massificação antes proporcionada apenas pelo rádio e pela TV. Mas há uma invenção fundamental, ocorrida no século 15, que se mostra viva até hoje, e pode ser considerada revolucionária: a prensa móvel.

Mas, o que é a prensa móvel? Trata-se de uma máquina que permitiu a impressão de livros, jornais, panfletos e outros tipos de materiais com escritos em grandes quantidades. Duas outras invenções anteriores à prensa móvel tornaram-na possível: a xilografia e os tipos móveis. A xilografia surgiu na China, no século 3 da atual era. Trata-se de uma técnica em que carimbos de madeira são utilizados na reprodução de padrões gráficos em tecido e, posteriormente, em papel. Os carimbos, em si, já eram utilizados há mais de 5000 anos atrás, na Mesopotâmia e no Egito. O que a xilografia traz de inovador é que, com ela, passou a se usar tinta. Sim, os carimbos anteriores serviam apenas para fazer impressões em relevo, mas não com tinta. Outro fato curioso é que essa técnica demorou a chegar à Europa, sendo comum apenas por volta do ano 1300, ou seja, passados mil anos de sua invenção.

A outra invenção que possibilitou a criação da prensa móvel foram os tipos móveis. Trata-se de uma tecnologia de impressão que usa componentes móveis para reproduzir elementos de um documento, sejam letras ou pontuações, em papel ou outro meio. Mais uma vez, trata-se de uma criação chinesa, ocorrida por volta do ano de 1040. Inicialmente, surgiram como placas de cerâmica, tendo evoluído para placas metálicas nos séculos seguintes. O maior problema para a utilização mais plena dos tipos móveis na China foi o fato de que, na grafia chinesa, há milhares de caracteres e, portanto, eram necessários milhares de tipos. No Ocidente, a utilização de tipos móveis foi acelerada porque o número de caracteres e sinais gráficos distintos existentes na grafia das línguas europeias era muito menor. Posto de outra forma: se, para os chineses, a evolução da xilografia para os tipos móveis não significava economia, pois o processo seguia complexo, para os ocidentais, isto era uma mudança radical nas possibilidades de uso, pois a diagramação de páginas com tipos móveis era muito mais rápida do que com a xilografia.

O salto seguinte foi a criação de um sistema completo de impressão a partir dos tipos móveis. Quem fez isso foi o germânico Johannes Gutenberg, por volta de 1440. Por ser ourives e, portanto, ter experiência com a forja de metais, foi mais simples para Gutenberg adaptar uma prensa de rosca para trabalhar com os tipos móveis. Também foi mais fácil para ele adaptar dos chineses as matrizes metálicas, que são suportes ou moldes nos quais são fixados os tipos móveis, ou seja, as peças que contêm os caracteres que se quer imprimir. Essas matrizes, portanto, são montadas e desmontadas com os tipos móveis para cada página que se queira imprimir. Além disso, há vários tamanhos e formatos de matrizes, possibilitando variação na diagramação.

É preciso notar que a prensa de Gutenberg representou um avanço mais expressivo na Europa, onde a xilografia havia se disseminado fazia pouco tempo, e onde a impressão com tipos móveis metálicos era mais confiável e rápida do que usando carimbos de madeira. Mas, sem dúvida, a tecnologia usada por Gutenberg era bem anterior a ele, e criada por chineses. O que, obviamente, não tira os méritos de Gutenberg, especialmente por ser ele o precursor e difusor do uso dos tipos móveis para impressão pelo Ocidente no século 15. Estima-se que, até o ano de 1500, ou seja, em um intervalo de 60 anos, vinte milhões de livros impressos tenham sido produzidos.

É exatamente aqui que queremos chegar. A difusão do livro no Ocidente só foi possível graças ao barateamento de sua impressão, algo que a prensa de Gutenberg fez com enorme eficiência e rapidez. Mas o que representa o livro? Livro é cultura, livro é informação, livro é conhecimento, livro é saber. Saber que pode ser multiplicado por muito tempo, que pode ser levado de um lado para outro, que pode ser armazenado. A revolução, portanto, é a da popularização do livro e, consequentemente, do saber.

Para ficarmos em único exemplo histórico de revolução que a prensa de Gutenberg permitiu foi a Reforma Protestante. Com a prensa, foi possível imprimir e distribuir a preços baixos materiais religiosos redigidos em língua corrente, e não em latim. Obviamente, isso ainda implicava que as pessoas deveriam saber ler, mesmo que não mais em latim. A consequência foi um movimento amplo de alfabetização, que é o ponto inicial de uma viagem a qualquer lugar onde o saber esteja registrado na forma escrita. Sim, a prensa de Gutenberg mudou o mundo.


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do grupo de pesquisa “Investigações Transdisciplinares em Educação para a Ciência, Saúde e Ambiente”.

Comissão editorial
Larissa Perdigão
Michelle Zampieri Ipolito
Glauco Lini Perpétuo

Jornalista responsável
Larissa Perdigão (MTb 37654/SP)

Imprenta
Brasília, DF, Brasil

ISSN 2446-4759