como exercícios físicos melhoram a imunidade
Já se sabia que atividade física fortalece o sistema imunológico; agora, sabe-se como isso ocorre

 ano 19  -  n.37  -   jan./jun. 2021 

por Larissa Perdigão

Pxhere/1560781/CreativeCommons
Não é preciso malabarismo para melhorar a imunidade com exercícios físicos

Uma boa notícia nestes tempos em que precisamos aumentar a nossa imunidade. Cientistas do Instituto de Pesquisa do Centro Médico Infantil da Universidade do Texas Sudocidental, em Dallas, identificaram um dos mecanismos pelos quais exercícios físicos fortalecem os ossos e a imunidade. O resultado foi publicado em fevereiro de 2021 na revista Nature. Embora já se conhecesse a relação entre esses fatores, a novidade está na investigação das razões biológicas e fisiológicas que os associam.

O exercício físico de moderada intensidade contribui para aumentar a proteção contra infecções intracelulares. Por outro lado, atividades físicas de alta intensidade geram aumento de anticorpos, como resposta à inflamação do tecido muscular resultante do esforço extremo. Isto contribui para o combate a agentes infecciosos extracelulares, mas prejudica a ação imunológica contra agentes infecciosos intracelulares.

Já se sabia disso: praticar exercícios físicos regularmente é algo que pode ser benéfico para a saúde, mas resultados mais próximos do ideal exigem a determinação precisa de parâmetros como intensidade e volume. Isto significa que o exercício físico deve ser prescrito por profissional da área, seja um educador físico ou um médico do esporte.

Muitas pessoas fazem exercícios físicos para aumentar a massa muscular. Poucos se dão conta dos efeitos do exercício físico para os ossos. Mas o tecido ósseo é um centro fisiológico de vários estímulos das mais diversas origens: dietética, endócrina, nervosa, imunológica, muscular, entre outras. Os ossos interagem com o restante do organismo alterando a sua composição, o que impacta sua forma e resistência; modulando a liberação de cálcio e fósforo no sangue; e liberando hormônios e outros mediadores capazes de informar o estado dos ossos ao resto do corpo.

A atividade física é o estímulo-chave para o metabolismo ósseo. Ela atua de duas formas bem conhecidas, sendo uma direta, pela carga biomecânica suportada pelo osso, e outra indireta, mediada pelos músculos ligados a esse osso. Estas formas constituem os principais estímulos fisiológicos para a formação e para a manutenção saudável dos ossos. Mas há uma terceira forma pela qual a atividade física pode mudar as funções ósseas, ainda em fase de pesquisa. Ela passa pelo sistema imunológico.

É surpreendente a complexidade fisiológica do organismo, pela qual fatores ambientais, como o exercício físico, influencia o crescimento das células na medula óssea. Já se sabia que a função imunológica é modulada pela atividade física. No entanto, pesquisas publicadas nos últimos anos esclareceram essa relação. Foram descobertos, por exemplo, sensores da imunidade inata, que atuam como gatilhos teciduais da inflamação em resposta a infecções. Não somente isso: certos tecidos, como o músculo esquelético e o tecido adiposo, mostraram-se capazes de afetar profundamente a função imunitária. A atividade física atua nesses dois mecanismos. Portanto, seus efeitos no osso também são mediados pela ativação do sistema imunológico.

Chama a atenção o quanto o sistema imunológico e os ossos estão fortemente conectados. A pesquisa do Instituto de Pesquisa do Centro Médico Infantil da Universidade do Texas Sudocidental identificou o local, o nicho da medula óssea onde células ósseas e do sistema imunológico são produzidos. O estudo também mostrou que a estimulação induzida pelo exercício físico é necessária para a manutenção desse nicho, assim como do osso e das células precursoras das imunológicas que o nicho contém. Juntas, essas descobertas representam a identificação de um mecanismo pelo qual o exercício físico fortalece os ossos e a função imunológica.

Os pesquisadores da instituição texana descobriram que as forças necessárias à caminhada ou à corrida são transmitidas das superfícies ósseas ao longo das finas artérias, as arteríolas, até a medula óssea. As células formadoras de ossos que revestem o exterior das arteríolas percebem essas forças e são induzidas a se multiplicar. Isso não só permite a formação de novas células ósseas, mas também a secreção de um fator de crescimento que estimula a formação das células que formam os linfócitos situados ao redor das arteríolas. Os linfócitos são as células que permitem ao sistema imunológico combater as infecções.

O fator de crescimento, que não era conhecido, foi chamado pelos pesquisadores de osteolectina. Os pesquisadores não tinham certeza de como a osteolectina era produzida. Então, foi usado um marcador químico para descobrir quais células a produziam. Descobriu-se que eram as células que haviam descoberto anteriormente, no chamado nicho. Quando a capacidade das células formadoras de ossos de sentir forças dos exercícios físicos foi desativada, a formação de novas células ósseas e linfócitos foi reduzida, fazendo com que os ossos se tornassem mais finos e a capacidade dos ratos de combater infecções por bactérias ficasse diminuída. Ou seja, as células que se agrupam junto às arteríolas são realmente reguladas mecanicamente.

Por outro lado, sabendo que os ossos enfraquecem com a idade, e que tanto a atividade física quanto a osteolectina parecem protegê-los, o grupo de cientistas se perguntou se o fator de crescimento seria o responsável pelo benefício do exercício. O que eles descobriram foi que ratos idosos atletas produziram mais osteolectina e células ósseas novas em comparação com ratos idosos sedentários. E, claro, com as osteolectinas, houve a formação de células do sistema imunológico.

Os resultados do grupo texano lançam luz sobre os nichos. Constituídos por células-tronco, os nichos são ambientes especializados da medula óssea controlados por fatores de crescimento. Muitos poucos nichos da medula óssea foram estudados em profundidade. Os cientistas relatam surpresa ao descobrir que as forças mecânicas do exercício físico poderiam desempenhar um papel na manutenção de suas condições, e já se perguntam se a estimulação mecânica para a regulação da atividade dos nichos de células-tronco é necessária com mais frequência do que a ciência pensava até agora.

Se for assim, esses resultados só aumentariam ainda mais a recomendação de uma vida ativa, com suficiente atividade física, especialmente para idosos. Afinal, como o estudo mostrou, o exercício físico estimula não somente a saúde óssea, mas também a imunidade. Então, mais que ter histórico de atleta, é recomendado manter em dia a atividade física na terceira idade.


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do grupo de pesquisa “Investigações Transdisciplinares em Educação para a Ciência, Saúde e Ambiente”.

Comissão editorial
Michelle Zampieri Ipolito
Larissa Perdigão
Glauco Lini Perpétuo

Jornalista responsável
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ISSN 2446-4759