acordes: combinação de sons que encanta
Notas musicais tocadas juntas geram infinidade de acordes

 ano 20  -  n.39  -   jan./jun. 2022 

por Natan Andrade da Guia e Larissa Perdigão

Kotaro Studio/Pixabay/Free License
Piano: instrumento que permite compreender a música por suas teclas

Os acordes podem ser maiores, menores, suspensos; podem ainda possuir quartas, sextas ou sétimas. Existem acordes menores e com sétima, ao mesmo tempo. São muitas as possibilidades abertas aos compositores musicais, que podem variar acordes em busca de diferentes sentimentos em quem ouve. A formação dos acordes pode parecer confusa, mas, na realidade, ela é mais simples do que se pode imaginar. Basta um pouco de conhecimento sobre teoria musical.

Os músicos costumam dividir a música em três partes distintas: o ritmo, a melodia e a harmonia. O ritmo corresponde ao andamento ou velocidade da canção. A melodia é uma sequência de notas tocadas, umas seguidas das outras, com duração e intervalo determinados pelo músico que a compõe. Por fim, a harmonia é um conjunto de melodias tocadas juntas e que serve de base para o andamento da melodia, formando uma “cama” para a melodia principal repousar.

Os ritmos, geralmente, são marcados com instrumentos de percussão. Em alguns casos, pode-se até usar partes do corpo, como as mãos e os pés. As melodias e harmonias podem ser produzidas por flautas, trompetes, contrabaixos, gaitas, violões, violas, pianos, entre outros. Alguns instrumentos musicais fazem exclusivamente a melodia, como é o caso da flauta. Outros, como o violão, além de melodias, podem ser usados para criar belas harmonias. E ainda há instrumentos como o piano, que podem ser usados para fazer melodias e harmonias simultaneamente.

Pianos nos ajudam a traduzir visualmente a música. Eles possuem oitenta e oito teclas, todas dispostas de maneira alternada e respeitando uma ordem específica. Cada tecla corresponde a uma nota musical, ou seja, a uma onda mecânica que oscila com uma frequência característica, captável por nossos ouvidos e traduzida como um som.

Existem doze notas musicais. Sete delas são naturais: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si. As outras cinco são “acidentes”, ou seja, notas alteradas: Dó#, Ré#, Fá#, Sol# e Lá#. O símbolo adicionado ao lado da nota indica que ela foi alterada. Ele é chamado de sustenido. Dessa forma, uma nota Dó# é lida como Dó sustenido e não simplesmente como Dó.

No piano, as teclas de cor branca dão origem às notas naturais, enquanto as teclas menores e de cor preta são responsáveis pelas notas alteradas. A ordem das doze notas, portanto, é Dó, Dó#, Ré, Ré#, Mi, Fá, Fá#, Sol, Sol#, Lá, Lá# e Si.

Observe que Dó# situa-se entre Dó e Ré. Embora receba o nome da primeira acrescido da expressão sustenido, poderia receber o nome da segunda, acrescido da expressão bemol. O bemol é simbolizado por um b minúsculo. Assim, Dó sustenido também pode ser chamado Ré bemol, por exemplo, em uma propriedade de equivalência chamada enarmonia. A ordem fica Dó, Réb, Ré, Mib, Mi, Fá, Solb, Sol, Láb, Lá, Sib, Si.

Entre sustenidos e bemóis, talvez você esteja se perguntando: se só existem doze notas musicais, por que o piano possui tantas teclas? Isto ocorre porque, a cada conjunto de doze notas, elas voltam a se repetir, mas com frequências diferentes. Por exemplo, depois do Si, vem outro Dó.

Entre uma nota Dó e outro Dó mais à frente, ou seja, entre duas notas se repetindo em regiões consecutivas, há um intervalo denominado oitava, com a segunda nota Dó possuindo o dobro da frequência da primeira. O efeito em nossos ouvidos é que percebemos a segunda nota mais aguda em relação à primeira.

No piano, assim como em outros instrumentos, costuma-se selecionar uma nota Dó que serve como referência para acharmos as outras notas. Esta nota é conhecida como Dó central e encontra-se, em muitos casos, posicionada na região central do instrumento. Todas as notas posteriores a ela terão frequências cada vez mais altas e as notas anteriores terão frequências cada vez mais baixas, sendo percebidas como mais agudas e mais graves, respectivamente.

Além da relação de proporcionalidade presente nas frequências das notas musicais, existe também uma relação de proporcionalidade que pode ser encontrada de uma nota para a outra. A menor distância entre duas notas, como, por exemplo, entre um Dó e um Dó# ou entre um Mi e um Fá, é conhecida como semitom. Dois semitons consecutivos formam um tom inteiro, quatro semitons em sequência dão origem a dois tons, e assim por diante.

Quando um músico toca todas as doze notas, umas seguidas das outras, passando também pelas notas sustenidas, dizemos que ele tocou a escala cromática. Uma escala musical é um conjunto de notas que guarda uma relação entre si. Além da escala cromática, existem muitas outras escalas. Escalas são muito importantes e variadas. Há as escalas maiores, escalas menores, escalas com apenas cinco notas — conhecidas como pentatônicas —, escalas harmônicas, escalas melódicas, entre muitas outras.

Você ainda se lembra de que há sete notas naturais: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si? Pois é, essa sequência de notas naturais é conhecida como escala maior natural de Dó. Ela serve como base para a formação das demais escalas maiores. Isto ocorre porque a relação de proporcionalidade (de tom e semitom) entre cada uma das sete notas da escala maior é constante. Sua estrutura, que exibe a relação de proporcionalidade, é tom, tom, semitom, tom, tom, tom, semitom. Ou seja, de Dó para Ré, avança-se um tom — pois passamos por dois semitons, sendo eles de Dó a Dó# e de Dó# a Ré —; de Ré a Mi, um tom; de Mi a Fá, um semitom; e assim por diante.

Assim sendo, para formarmos qualquer escala maior, como por exemplo, a escala maior de Fá, basta iniciar a contagem de tons a partir da nota Fá e respeitar os intervalos presentes na escala maior de Dó: tom, tom, semitom, tom, tom, tom, semitom. Isso resulta em Fá, Sol, Lá, Sib (ou Lá#), Dó, Ré, Mi, Fá.

Mas por que o conhecimento sobre escalas é tão importante? É porque as escalas são fundamentais para a harmonia da música. Elas contribuem para a formação dos acordes, mesmo os mais simples. Um acorde é uma sequência de notas a serem ouvidas juntas e que possuem uma relação entre si. Mas não qualquer relação. As notas precisam ter uma relação de harmonia. É isto: os acordes são a harmonia de uma música.

Entender os acordes fica mais fácil quando trabalhamos com a notação de números. Na escala maior, por exemplo, cada nota recebe um número de 1 a 7, em ordem crescente, cada número passando a ser conhecido como um grau na escala. Sendo assim, na escala maior de Dó, a nota Dó recebe o número 1, ou seja, é o primeiro grau da escala maior de Dó. Ré e Mi serão o segundo e terceiro graus, e assim por diante, até chegarmos à nota Si, correspondente ao sétimo grau.

Os acordes mais simples possuem três notas. Existem também acordes com quatro notas e até acordes com harmonias mais complexas, que possuem mais notas, mas vamos começar entendendo os acordes simples.

A chave para montar qualquer acorde maior é tocarmos simultaneamente o primeiro, o terceiro e o quinto grau da escala maior. Neste caso, um músico que deseje formar um acorde de Dó maior deve tocar as notas Dó, Mi e Sol, presentes na escala maior natural de Dó nos graus 1, 3 e 5, respectivamente. De modo análogo, para obter um acorde de Sol maior, é necessário que sejam tocadas as notas Sol, Si e Ré.

Repare que Dó representa uma nota, mas, também, um acorde do qual a nota Dó se faz presente no grau 1, juntamente com outras notas, em outros graus. Por isso, é frequente que sejam usadas cifras para acordes, ou seja, letras representando os acordes no lugar do homônimo da nota. Lá é o acorde que recebe a letra A, Si recebe o B, Dó é denotado por C, e assim segue até o Sol, o G.

Uma bela oportunidade para incrementar a harmonia é adicionar uma quarta nota ao acorde. Nos casos mais comuns, acrescenta-se o sétimo grau. No caso de um acorde de Dó maior, o sétimo grau é uma nota Si; em Sol maior, o sétimo grau é Fá#. Em ambos os casos, escreve-se um número 7 ao lado do nome do acorde para indicar a adição do sétimo grau. Existe, também, a possibilidade de adicionar o segundo, quarto ou sexto grau, fazendo com que cada acorde tenha um timbre característico.

A formação dos acordes menores segue o mesmo princípio. Entretanto, a escala maior não tem vez aqui. No lugar dela, é usada a escala menor natural. Para formar um acorde de Lá menor, por exemplo, usamos a escala menor natural de Lá, que possui as seguintes notas: Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá e Sol, ou seja, ela é tom, semitom, tom, tom, semitom, tom, tom.

O acorde menor também é alcançado ao tocarmos simultaneamente o primeiro, o terceiro e o quinto grau; porém, agora, da escala menor. Logo, o acorde de Lá menor tem as notas Lá, Dó, Mi. Se o acorde de Lá maior era simplesmente representado como Lá, o acorde de Lá menor difere-se pela adição de uma letra m minúscula: Lám ou, com muito mais frequência, com o uso da cifra, Am.

Um acorde maior é diferente de um acorde menor, claro. Mas a diferença é bastante sutil. O primeiro grau e o quinto grau são iguais em ambos. A diferença fica só no terceiro grau. Em acordes maiores, o terceiro grau está a dois tons inteiros de distância da nota principal do acorde. Em acordes menores, a distância é de apenas um tom e meio.

Uma curiosidade é que as escalas de Dó maior e de Lá menor possuem as mesmas sete notas naturais. Porém, elas se iniciam por notas diferentes. Por este motivo, dizemos que elas são escalas relativas uma da outra. Toda escala maior tem uma escala relativa menor.

Outra curiosidade musical é que, além de acordes maiores e menores, existem também os chamados acordes suspensos. Nestes casos, o terceiro grau é retirado. Toca-se o acorde apenas com o primeiro e o quinto graus, ou faz-se a adição do quarto grau, ficando o acorde com os graus 1, 4 e 5.

As sequências em que os acordes aparecem na música são chamadas de progressões. O estudo dessas sequências ocorre em um campo da música denominado harmonia funcional. Cada progressão ou acorde individual tem por objetivo passar uma emoção diferente ao ouvinte da música. Costuma-se dizer que acordes maiores dão a sensação de felicidade e acordes menores passam um sentimento de tristeza. De maneira análoga, as progressões, ao variarem os acordes, passarão diferentes sentimentos para o ouvinte: tristeza, felicidade, alegria, tensão, medo.

Embora não existam regras quando o objetivo é compor uma canção, existem alguns princípios que podem ser seguidos para expressar adequadamente nossos sentimentos por meio da música. Por isso, sejam eles maiores, suspensos, com quartas ou sétimas, e até menores com sétima ou não, os acordes são uma combinação de sons que encanta.


Cultura Secular

Revista de divulgação científica e cultural do grupo de pesquisa “Investigações Transdisciplinares em Educação para a Ciência, Saúde e Ambiente”.

Comissão editorial
Larissa Perdigão
Michelle Zampieri Ipolito
Glauco Lini Perpétuo

Jornalista responsável
Larissa Perdigão (MTb 37654/SP)

Imprenta
Brasília, DF, Brasil

ISSN 2446-4759