afinal, o que é poluição?
Definições de poluição e de contaminação não são consensuais entre cientistas
ano 2 - n.3 - jan./jun. 2004
por Larissa Perdigão
Larissa Perdigão |
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Rio Tietê na cidade de Pirapora do Bom Jesus (SP): poluído e contaminado |
A questão ambiental vem ganhando importância nos últimos tempos. A ecologia, estudo das relações de interdependência entre os organismos que constituem a natureza viva, tem sido mais freqüentemente discutida tanto pelos meios de comunicação quanto pela população. Entretanto, assim como em outras áreas do conhecimento humano que se popularizaram rapidamente, como a psicologia, alguns termos têm sido utilizados de forma inexata em relação à sua definição científica.
Poluição é um desses termos. Poluição é uma alteração ecológica, ou seja, uma alteração na relação entre os seres vivos, provocada pelo ser humano, que prejudique, direta ou indiretamente, nossa vida ou nosso bem-estar, como danos aos recursos naturais como a água e o solo e impedimentos a atividades econômicas como a pesca e a agricultura.
Nem toda alteração ecológica pode ser considerada poluição. Um lançamento de uma pequena carga de esgoto doméstico em um rio provoca a diminuição do teor de oxigênio de suas águas. Mas se esta diminuição de oxigênio não afetar a vida dos peixes nem dos seres que lhes servem de alimento, então o impacto ambiental provocado pelo esgoto lançado no rio não é uma poluição.
Algumas vezes, a palavra contaminação é utilizada equivocadamente no sentido de poluição. A contaminação é a presença, num ambiente, de seres patogênicos, que provocam doenças, ou substâncias, em concentração nociva ao ser humano. No entanto, se estas substâncias não alterarem as relações ecológicas ali existentes ao longo do tempo, esta contaminação não é uma forma de poluição.
Esta diferenciação é fundamental no caso do ambiente ser a água. Se estivermos falando em contaminação da atmosfera, a diferença entre contaminação e poluição perde importância, visto que ela é o ambiente de onde o ser humano capta oxigênio. O ar contaminado, seja com gases tóxicos ou partículas microscópicas em suspensão, também não pode ser confinado em um determinado espaço, como o solo e a água. Assim, a contaminação do ar tem conseqüências diretas na vida do homem, devendo ser classificada também como poluição. Já o observado aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera é apenas poluição, visto que este gás não é potencialmente tóxico.
Da mesma forma é comum confundir contaminação com sujeira. Uma água barrenta, de coloração acentuada, malcheirosa ou espumante é considerada impura ou nociva, por estar "suja". Entretanto, muitas vezes, trata-se de uma água que não faz mal à saúde. Já uma água realmente contaminada por germes patogênicos, mas inodora e de aparência límpida, não é rejeitada. Trata-se de um equívoco perigoso. Deixar de beber a água suja não traz nenhum risco. Pelo contrário, é uma atitude prudente. Já beber a água que parece potável pode trazer graves conseqüências à saúde.
Outra característica que deixa clara a distinção entre poluição e contaminação é a passividade comumente associada à primeira. O fator de poluição não costuma agir ativamente sobre o ser vivo, mas indiretamente retira dele as condições adequadas à sua vida. A poluição da água é um exemplo. As alterações ecológicas que provocam a morte dos peixes de um rio que recebe grande quantidade de esgotos não se dão pela ação de uma substância ou ser patogênico letal, mas sim pelo lançamento de alimento em quantidade excessivamente grande.
O esgoto é constituído principalmente por matéria orgânica. Este tipo de substância serve de alimento a animais, fungos e bactérias. Sua introdução naquele ambiente é, em quantidades pequenas, favorável, pois alimenta direta ou indiretamente os peixes. Mas quantidades maiores só poderão ser consumidas por bactérias, que passarão a ter condições excepcionais para multiplicar-se rapidamente.
Entretanto, o aproveitamento da energia contida naquele alimento só pode ser efetuado com o consumo de oxigênio, através da respiração celular. Este consumo passa a ser bem maior que a quantidade de oxigênio que a água pode voltar a captar da atmosfera ou que recebe das algas que fazem fotossíntese. Com isso, os organismos maiores, como os peixes, que precisam de concentrações maiores de oxigênio para sobreviver, são os primeiros a morrer. Ou seja, não morrem diretamente por causa do esgoto jogado na água, mas sim devido às conseqüências de sua presença no ambiente.
Outra incorreção é chamar simplesmente de poluição a poluição atmosférica. Existem diversos ambientes onde a poluição pode surgir, não só no ar, portanto, é necessário ser específico. Da mesma forma, não existe apenas a poluição química, onde substâncias e reações químicas são o fator de poluição. Podemos citar a poluição física, ligada a fenômenos físicos, como quando uma indústria lança água ainda quente em um rio, o que provoca liberação do oxigênio dissolvido, e a poluição físico-química, associada a processos químicos que alteram propriedades físicas, como a diminuição da tensão superficial da água provocada por detergentes, resistência da qual depende a vida de muitos seres que vivem na água ou próximo dela.
Alguns dos conceitos apresentados aqui não têm as mesmas interpretações para todos os cientistas, mas são estas as mais comumente empregadas. Infelizmente, os meios de comunicação do Brasil têm, com freqüência, difundido as interpretações não usuais desses termos científicos. Entretanto, não só ideal como é fundamental a utilização adequada dos termos, sob pena de não se ser compreendido.
Cultura Secular
Revista de divulgação científica e cultural do Secular Educacional.
Comissão editorial
Larissa Perdigão
Rodolfo Augusto Vieira
Jornalista responsável
Larissa Perdigão (MTb/SP 37654)
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São Carlos, SP, Brasil
ISSN 2446-4759
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