a universidade na colômbia colonial
Na América espanhola, as universidades já faziam parte do sistema educacional
ano 9 - n.18 - jul./dez. 2011
por Larissa Perdigão
Larissa Perdigão |
|
Colegio de San Bartolomé, Bogotá, Colômbia, fundado em 1604 |
Ao contrário do que ocorreu no Brasil, colônia portuguesa nas Américas, em que os primeiros cursos superiores foram criados após a independência, em ato de Dom Pedro I em 1827, as colônias espanholas em nosso continente já possuíam cátedras universitárias na era colonial. Neste texto, trataremos, especificamente, das características da universidade na atual Colômbia, sendo que, na maioria dos casos, tais características podem ser estendidas às universidades de toda a América espanhola no período.
Já durante a primeira etapa de colonização, quando da instalação da autoridade judiciária espanhola na atual Bogotá, chamada Real Audiência, em 1550, a qual tinha jurisdição por todo o Reino da Nova Granada, correspondente, hoje, aos territórios colombiano, venezuelano, equatoriano e panamenho, os conventos foram autorizados a oferecer instrução em gramática e leitura tanto para clérigos quanto para seculares, ou seja, cidadãos não religiosos. Tal autorização efetivamente foi colocada em prática pelas primeiras ordens monásticas instaladas no território: franciscanos, agostinianos e dominicanos.
No entanto, colégios, faculdades e universidades autorizados a atribuir títulos de bacharelados e doutorados só surgem em começos do século 17, ou seja, cerca de 50 anos depois. Estas instituições, também religiosas, ofertavam diplomas de doutor em direito e teologia. É o caso, por exemplo, da Universidade Javeriana, fundada pelos jesuítas em 1623. De fato, os únicos ciclos de estudo universitário eram três: leis, artes e teologia, sendo que, no ciclo de artes, estudava-se gramática, retórica, lógica, metafísica e um pouco de matemática e de ciência. As aulas eram ministradas em latim até por volta de 1800.
O método de ensino seguia uma linha escolástica (uma corrente da filosofia religiosa medieval). O professor lia um texto, daí os alunos elaboravam perguntas ou tiravam conclusões. Os exames eram frequentes, realizados a cada quatro meses, em uma forma de prova oral na qual um texto era aleatoriamente escolhido e o aluno era obrigado a argumentar e responder perguntas sobre ele. A banca, a partir das falas do candidato, aprovava ou desaprovava.
O acesso ao ensino superior também era limitado. Apenas aqueles que comprovassem “pureza de sangue”, ou seja, que descendiam de espanhóis ou de criollos (americanos descendentes de europeus) poderiam ingressar nas instituições. No entanto, a esta regra geral de discriminação eram permitidas frequentes exceções.
Em uma sociedade agrária, mineira e comercial como a colonial, não se faziam necessários outros cursos universitários. Afinal, na agricultura e na mineração, as técnicas utilizadas eram transmitidas oralmente e se mantinham por séculos. No caso específico da mineração, a única exploração era a de aluvião, ou seja, dos detritos acumulados em certos locais pelas águas correntes de chuvas e de rios, o que não requeria técnicas muito elaboradas. As manufaturas e o comércio também apresentavam alto grau de simplicidade. Por exemplo, tentou-se implantar, em fins do século 18, nas primeiras empresas de mineração do agora Vice-Reino de Nova Granada, o sistema de contabilidade de partidas dobradas, usado ainda hoje como padrão e criado em 1494, mas os tesoureiros se viram incapazes de assimilá-lo.
Outra questão era a de que, na época, os estudos objetivavam apenas que a elite se mantivesse um pouco educada. Ou seja, bastavam alguns conhecimentos clássicos, educação religiosa e domínio do latim. Portanto, tratava-se de uma situação diferente da observada há algumas décadas, em que a educação universitária era uma forma de a elite se manter nos postos de trabalho de mais prestígio, ou mesmo da situação atual, em que a educação universitária ou pós-média é inevitável para o exercício da grande maioria das atividades de produção e de oferta de serviços.
Uma reforma do ensino universitário era necessária no Vice-Reino de Nova Granada na década de 1770, na esteira da expropriação dos bens da Companhia de Jesus. Ou seja, quando o governo confiscou o patrimônio dos jesuítas, o ensino universitário de qualidade ficou inviável. Uma proposta surgida à época era a da implantação de universidades públicas a partir do patrimônio confiscado. No entanto, na ausência dos religiosos, não havia pessoal qualificado para manter o padrão de ensino. Além disso, não havia suficiente interesse da metrópole em que a colônia tivesse educação de excelência.
O que se observou no Vice-Reino até a sua independência, em fins da década de 1810, à exceção da cátedra do cientista, botânico e matemático José Celestino Mutis, era um ensino universitário insuficiente em receitas, número de alunos e qualidade. A proposta de reforma elaborada em 1774, eliminando o caráter escolástico do ensino e exigindo o cumprimento de normas pedagógicas mínimas, ficou apenas no papel. Mesmo assim, é preciso destacar que a situação da educação no momento da independência da República da Grã-Colômbia, em 1819, era muito melhor que a da América portuguesa, em que instituições educacionais realmente importantes só foram instaladas após a mudança da família real para o Brasil, em 1808.
Cultura Secular
Revista de divulgação científica e cultural do Secular Educacional.
Comissão editorial
Larissa Perdigão
Michelle Zampieri Ipolito
Jornalista responsável
Larissa Perdigão (MTb/SP 37654)
Imprenta
Gurupi, TO, Brasil
ISSN 2446-4759
|
|