plástico: o maior vilão dos mares
Material versátil, barato e estável, na natureza causa problemas que durarão séculos
ano 17 - n.33 - jan./jun. 2019
por Deivisson Montalvão de Araujo
Vaidehi Shah (flickr:raspberrydolly) |
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Lixo na praia do East Coast Park, em Singapura |
“E como pretende impedir as atrocidades que a superfície continua a cometer? Porque, há um século, eles vêm poluindo as nossas águas, envenenando nossos filhos, e agora os céus queimam e nossos oceanos fervem”. Essas foram as palavras que o vilão Orm disse para o seu irmão Arthur, o Aquaman, no filme homônimo, na primeira vez em que se encontraram depois de o vilão lançar seu primeiro ataque contra a superfície. Apesar de seus atos serem condenáveis, Orm tinha um ponto. O ser humano está tendo um papel decisivo no aumento da poluição dos mares.
Apesar de dependermos dos recursos hídricos, nós não os usamos de maneira sustentável. Desperdício e uso exagerado em áreas como a agricultura são só alguns de muitos problemas que precisam ser resolvidos enquanto ainda há tempo. Nos mares, ainda temos um outro problema: a poluição. O descarte inadequado do lixo, muito pela falta de conscientização das pessoas, faz com que grande quantidade de material estranho chegue às águas dia após dia. Para ser ter uma ideia, um levantamento divulgado no Fórum Mundial da Água em 2018 revelou que aproximadamente 25 milhões de toneladas de lixo chegam aos mares todos os anos. É uma quantidade alarmante.
São vários os tipos de lixo presentes nos mares. Porém, iremos focar nos resíduos plásticos, que correspondem a cerca de metade de todo o lixo lançado aos mares, de acordo com esse estudo recente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos.
É interessante pensar no quanto somos dependentes do plástico, levando em conta a pouca idade dele. Desde que surgiu, há cerca de 100 anos, foi ocupando cada vez mais espaço em diversas áreas da nossas vidas, tornando-se cada vez mais essencial. Brinquedos, artesanato, construção, decoração, embalagens são só alguns itens de uma longa lista dos seus usos. Por isso, é difícil imaginar nossas vidas sem ele. Mas, afinal, por que o material plástico pode ser considerado um vilão para os mares?
Plásticos são materiais muito resistentes à biodegradação, ou seja, ao processo de decomposição natural de materiais. Em um processo relacionado à sua alimentação, fungos, bactérias e outros organismos quebram as ligações químicas dos materiais, transformando-os em partes cada vez menores, até que se reintegrem completamente ao ciclo natural. Os plásticos, no entanto, são formados principalmente por átomos de carbono e hidrogênio ligados de uma maneira muito estável. Como resultado, os organismos levam muito tempo para conseguir quebrar o material. Certos plásticos levam vários séculos para se degradarem completamente, causando problemas para a vida marinha.
Para combater essa poluição e preservar a natureza e a vida marinha, diversos países têm buscado maneiras de diminuir o uso do plástico, com campanhas de conscientização e leis de controle de alguns tipos desses materiais. Desde 2008, é proibido fabricar e comercializar sacolas e embalagens plásticas em Ruanda. Essa política de tolerância zero fez desse país do interior da África um exemplo a ser seguido por outros países e cidades do mundo.
Mais recentemente, diversas localidades buscaram banir os canudos plásticos. Apesar de haver grandes quantidades desses canudos nos oceanos, eles ocupam apenas a sétima colocação na lista de itens mais coletados pela ONG Ocean Conservancy (Conservação do Oceano), que promove eventos anuais de limpeza em praias de mais de 100 países. Na primeira posição desse ranking estão as bitucas de cigarros, seguidas de embalagens de comidas e garrafas plásticas. Apesar de a luta contra os canudinhos ser um bom pontapé inicial na guerra contra o plástico, nota-se que o problema da presença desse material nos mares é bem mais amplo.
Para combater o acúmulo de resíduos sólidos nos mares e na natureza de forma efetiva, é necessário diminuirmos nossa dependência de materiais plásticos. Isso é algo mais fácil de falar do que fazer, mas atitudes de pequena e larga escala podem ter efeitos positivos se pensarmos a longo prazo. Campanhas de conscientização voltadas para adultos e, principalmente, para crianças devem ser colocadas em prática.
Organizar mutirões de limpeza nas praias e em locais públicos é algo que deve ser estimulado. Uma campanha viralizou em diversos locais do mundo recentemente. Na Trashtag Challenge (algo como Desafio do Lixo), pessoas escolhem um local poluído e postam fotos antes e depois de terem limpado esse local. Essas atitudes são importantes e mostram que muitas pessoas estão preocupadas com a natureza. Experimente fazer isso com seus amigos um dia. No mínimo, você passará uma tarde divertida com eles, além de gerar umas boas curtidas nas redes sociais.
Além disso, pequenas atitudes, praticadas dia após dia, podem trazer grandes benefícios para o ambiente se adotadas por um número considerável de pessoas: usar menos sacolas plásticas ou trocá-las pelas de papel, andar com uma garrafinha de água para evitar o uso de plásticos ditos descartáveis, ter seu próprio canudo de inox ou usar canudos de material biodegradável, evitar comprar produtos de cuidados pessoais que contenham microplástico, também chamadas microesferas.
Com atitudes sustentáveis, faremos a diferença no mundo e deixaremos de ser cúmplices do vilão chamado plástico. Se escolhermos o lado certo nessa guerra, salvaremos os mares da poluição no futuro. Talvez assim, Orm pense duas vezes antes de atacar a superfície de novo, e Aquaman possa viver em paz com seu irmão nos mares. Seria um filme bem diferente.
Cultura Secular
Revista de divulgação científica e cultural do grupo de pesquisa “Investigações Transdisciplinares em Educação para a Ciência, Saúde e Ambiente”.
Comissão editorial
Larissa Perdigão
Michelle Zampieri Ipolito
Glauco Lini Perpétuo
Jornalista responsável
Larissa Perdigão (MTb 37654/SP)
Imprenta
Brasília, DF, Brasil
ISSN 2446-4759
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